sábado, 21 de abril de 2012

FREVO: REVENDO SUA HISTÓRIA.

Troça Carnavalesca SEM RUMO E SEM DIREÇÃO Olinda – 2011.
Casal: Thales e Aline Galhardo.

Thales Galhardo
(professor, escritor e pesquisador social)
Sabe-se através da oralidade que havia em Campo Grande (bairro do Recife) uma agremiação chamada “Empalhadores do Feitosa” (rua Larga do Feitosa) que em 1907 saiu às ruas com uma música chamada FREVO (essa informação foi confirmada por estudiosos e pesquisadores). Outra importante informação, sobre o evento, é que em 1869 saíram às ruas do Recife OS AZUCRINS grupo anárquico (troça) com características de agremiação carnavalesca.
O vocábulo FREVO aparece, pela primeira vez na edição de 9 de fevereiro de 1907, numa coluna carnavalesca do Jornal Pequeno (em Recife). Foi através de um metaplasmo lingüístico (acréscimo, supressão ou troca de fonemas na palavra, ou como preferem alguns estudiosos – uma corruptela) na expressão ``frevo`` que vem de ``frever`` (ferver) e que lembra também efervescência ou rebuliço, etc! O frevo, o mais característico folguedo pernambucano, é o retrato do carnaval, sua certidão de nascimento, incontestavelmente, genuinamente, é recifense e nasceu no pé do povão. É um ritmo ímpar, não há nada igual, mexe com todo o corpo. “O frevo é uma invenção do povo pernambucano”, diz Leonardo Dantas. Esse ritmo vem do último quartel do século XIX, nascido das fanfarras, das bandas militares da época. “O frevo, como música, recebeu a influência do dobrado, do pastoril, da modinha, da polca e do maxixe”, afirmava Waldemar de Oliveira.  O passo como dança inventiva, é uma coreografia espontânea, livre e surge ao gosto do passista. É um jogo de braços e pernas um legado dos capoeiras, do final do século XIX no Recife, o que hoje é passo e o passista.
“O frevo de rua é arrebatadoramente viril, ferve e faz ferver o sangue pernambucano, na magia louca do seu ritmo. Espeta a quem o olha da calçada e endoidece a quem nos seus braços se joga. É fogoso como um macho no cio. Não pede licença, invade. Não pede passagem, arrasta. Na estridência diabólica dos seus metais, no compasso binário carrega o povo no cortejo delirante de momo. Devasta a rua tresloucado. É um choque elétrico que entra pela cabeça toma conta do corpo e se expressa no pé, na extasiante coreografia do passo (CABRAL, Jairo).

Levino Ferreira conseguiu, com muita competência, dar a maior expressão ao frevo instrumental de rua em suas composições: Lágrimas de Folião, Última Troça, Amália no Frevo, A Cobra Está Fumando, Papa-fila, Mexe com Tudo, Diabos Souto, Retalhos de Saudade, Último Dia, etc. Levino foi um mestre do frevo de rua como:frevo-coqueiro”,  “frevo-ventania” e o “frevo abafo”. Suas obras são riquezas incomparáveis do nosso acervo musical. “O frevo é uma música de perguntas e respostas: os metais perguntam e as paletas respondem” Maestro Duda. O “frevo-coqueiro” se destaca pelas notas altas produzidas pelos pistões, trompetes e trombones-varas; o “frevo-ventania” é produzido pelas paletas dos saxofones e dos clarinetes e o “frevo abafo” quando uma orquestra quer abafar a outras no encontros das ruas estreitas. Como exemplo disso temos: “Vassourinhas” (de Matias da Rocha) e “Cabelo de fogo” (do maestro Nunes), que são dois frevos de rua com notas altas e são bastante executados nos confrontos de orquestras durante o carnaval. “O frevo é um binário muito sacudido, bole no pernambucano, bole no brasileiro...” Antônio Carlos Nóbrega. Tantas são as definições do FREVO graças a sua dinâmica: “Nós somos tomados e arrebatados pelo frevo, pela sua grande potência rítmica...” Antônio José Madureira.
Durante os dias de Momo encontramos grupos organizados, vestindo figurinos coloridos, curtos e colado ao corpo com suas sombrinhas coreografando pelas ruas. Há também aquelas figuras anônimas que se esbagaçam no “frevo rasgado”. Das pernadas dos capoeiras temos hoje, classificado, muitos passos, como: dobradiça, tesoura, tesoura no ar, locomotiva, ferrolho, parafuso, pontilhado, saci-Pererê, metrô de superfície, rã eletrizada, caindo nas molas, dobradiça, abanando o fogareiro, ponta de pé e calcanhar, abanando, caindo nas moas, folha seca, carrossel, machucadinho, rojão e a tradicional pernada, etc.. O frevo já está no código genético do pernambucano! No dia 9 de fevereiro de 2007, às 16h. o Conselho Consultivo do IPHAN  em Recife, reuniu-se, na Igreja Concatedral de Olinda e Recife, São Pedro dos Clérigos, no histórico Pátio de São Pedro, para então, declarar o FREVO PERNAMBUCANO um Patrimônio Cultural Imaterial inscrevendo-o no Livro de Registro Das Formas de Expressões. Após as formalidades o artista pernambucano Antonio Carlos Nóbrega, junto a diversos artistas compositores e músicos e o povo, comandaram um ARRASTÃO DO FREVO pelas ruas do Recife.
FREVO CANÇAO. Esse frevo nasceu depois e encontrou em Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Bandeira, Antônio Maria, entre outros, o nascedouro das mais belas composições, com traços poéticos, genuinamente, pernambucanos e que nos remete ao passado dos saudosos carnavais.     BLOCOS. Surgiram na década de vinte das reuniões festivas de família e das serestas feitas por pessoas da Classe Média de Recife e Olinda e aprimoram-se nos anos trinta. A orquestra compunha-se de instrumentos oriundos da própria seresta como violões, violas, cavaquinhos, banjos e bandolins e mais a percussão. Daí “Banda de Pau e Corda”. A partir dos anos sessenta foram inseridos alguns metais como o clarinete e o sax. O grupo completa-se com um coral feminino. Hoje são agremiações carnavalescas, formadas por pessoas de determinado bairro ou clube social e desfilam, geralmente, à noite, dançando e cantando suas músicas, (marcha de bloco) ao som da orquestra de pau e corda que geralmente são líricos. Os Blocos preferem fantasias luxuosas e temas saudosistas exaltam a beleza e valores de uma época e quase sempre há um enredo que lembra certo acontecimento histórico. A frente da agremiação destaca-se o flabelo. Alguns blocos se destacam, como: Bloco da Saudade, Banhistas do Pina (Recife), Flor da Lira em Olinda, entre outros. Temos também os blocos de frevo tocam e cantam frevo-canção e incluem na banda os metais.   O frevo de bloco encontrou em Edgar Morais um dos maiores representantes que traduziu em versos e melodias o sentimento pernambucano, sobretudo, recifense sobre esse gênero do carnaval. Para os pernambucanos o frevo é alma do folião. O dia 1º de novembro é o Dia do Frevo de Bloco (Lei n. 17.026/2004 CMR) é uma homenagem ao “General Cinco Estrelas”, Edgar Moraes.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ave sangria



Eles usavam batom, beijavam-se na boca em pleno palco, faziam uma música suja, com letras falando de piratas, moças mortas no cio. E eram muito esquisitos; "frangos", segundo uns, e uma ameaça às moças donzelas da cidade, conforme outros. Estes "maus elementos" faziam parte do Ave Sangria, ex-Tamarineira Village, banda que escandalizou a Recife de 1974, da mesma forma que os Rolling Stones a Londres de dez anos antes. Com efeito, ela era conhecida como os Stones do Nordeste.

"Isto era tudo parte da lenda em torno do Ave Sangria" - explica, 25 anos depois, Rafles, o ministro da informação do grupo. "O baton era mertiolate, que a gente usava para chocar. Não sei de onde surgiu esta história de beijo na boca, a única coisa diferente na turma eram os cabelos e as roupas." Rafles por volta de 68, era o "pirado" de plantão do Recife. Entre suas maluquices está a de enviar, pelo correio, um reforçado baseado, em legítimo papel Colomy, para Paul McCartney. Meses depois, ele recebeu a resposta do Beatle: uma foto autografada como agradecimento.

Foi Rafles quem propôs o nome Tamarineira Village, quando o grupo tomou uma forma definitiva, com a entrada do cantor e letrista Marco Polo. Isto aconteceu depois da I Feira Experimental de Música de Fazenda Nova. Até então, sem nome definido, Almir Oliveira, Lula Martins, Disraeli, Bira, Aparício Meu Amor (sic), Rafles, Tadeu, e Ivson Wanderley eram apenas a banda de apoio de Laílson, hoje cartunista do DP.

Marco Polo, um ex-acadêmico de Direito, foi precoce integrante da geração 45 de poetas recifenses. Com 16 anos, atreveu-se a mostrar seus poemas a Ariano Suassuna e a Cesar Leal. Foi aprovado pelos dois e lançou seu primeiro livro em 66. Em 69, iniciou-se no jornalismo, como repórter do Diário da Noite. Logo ganhou mundo. Em 70, trabalhou por algum tempo no Jornal da Tarde, em São Paulo, mas logo virou hippie, trabalhando como artesão na desbundada praça General Osório, em Ipanema. O primeiro show como Tamarineira Village foi o Fora da Paisagem, depois do festival de Fazenda Nova. Vieram mais dois outros shows, Corpo em Chamas e Concerto Marginal. A partir daí a banda amealhou um público fiel.

Ciganos

A mudança do nome aconteceu quando o grupo passou a ser convidado para apresentações em outros Estados. Os músicos cansaram-se de explicar o significado de Tamarineira Village. O Ave Angria, segundo Marco Polo, foi sugestão de uma cigana amalucada, que encontraram no interior da Paraíba: "Ela gostou de nossa música e fez um poema improvisado, referindo-se a nós como aves sangrias. Achamos legal. O sangria, pelo lado forte, sangüíneo, violento do Nordeste. O ave, pelo lado poético, símbolo da liberdade do nosso trabalho.

Na época, o som do Quinteto Violado era uma das sensações da MPB. Não tardou para as gravadoras mandarem olheiros ao Recife em busca de um novo quinteto. A RCA foi uma delas. O Ave Sangria foi sondado e recusou a proposta (a RCA contratou a Banda de Pau e Corda).

O disco viria com a indicação da banda, pelo empresário dos Novos Baianos, à Continental, a primeira gravadora a apostar no futuro do rock nacional. Antecipando a gozação por serem nordestinos, os integrantes da banda chegaram no estúdio Hawai, na Avenida Brasil, Rio, todos de peixeira na mão: "Falamos para o pessoal ter cuidado, porque a gente vinha da terra de Lampeão", relembra Almir Oliveira. Foi um dos poucos momentos de descontração da banda. Com exceção de Marco Polo, nenhum dos integrantes conhecia o Rio e jamais haviam entrado num estúdio de gravação.

De peixeira na mão

Como agravante, quem produziu o disco foi o pouco experiente Marcio Antonucci. Ex-ídolo da Jovem Guarda (formou a dupla Os Vips, com o irmão Ronaldo), Antonucci ficou perdido com o som que tinha em mãos, e o pôs a perder: "Ele não entendeu nada daquela mistura de rock e música nordestina que a gente fazia, e deixou as sessões rolarem. O diabo é que a gente também não tinha a menor experiência de estúdio", conta o guitarrista Paulo Rafael. Resultado: o disco acabou cheio de timbres acústicos. O Ave Sangria, involuntariamente, virou uma espécie de Quinteto Violado udigrudi. E adulterado não foi apenas o som. A gravadora não topou pagar pela arte da capa e colocou em seu lugar um arremedo do desenho original, assinado por Laílson.


O disco, mesmo pouco divulgado, conseguiu relativo sucesso no Sudeste, e vendeu bastante em alguns Estados do Nordeste. Uma das músicas que fizeram mais sucesso, e polêmica, foi o samba-choro Seu Waldir. "Seu Waldir o senhor/ Machucou meu coração/ Fazer isto comigo, seu Waldir/ Isto não se faz não... Eu quero ser o seu brinquedo favorito/ Seu apito/ Sua camisa de cetim..." Numa época em que a androginia tornava-se uma vertente da música pop. Lá fora com o gliter rock de David Bowie, Gary Glitter e Roxy Music com Alice Cooper, a aqui com o rebolado dos Secos & Molhados, Seu Waldir foi considerado pelos moralistas pernambucanos como uma apologia ao homossexualismo, quando não passava de uma brincadeira do irreverente do Ave Sangria.

Seu Waldir por pouco não vira mito. Uns diziam que era um senhor que morava em Olinda, pelo qual o vocalista do Ave Sangria apaixonara-se. Outros, que se tratava de um jornalista homônimo. Enfim, acreditava-se que o tal Waldir era um personagem de carne e osso. Marco Polo esclarece a história do personagem "Eu fiz Seu Waldir, no Rio, antes de entrar na banda. Ela foi encomendada por Marília Pera para a trilha da peça A Vida Escrachada de Baby Stomponato, de Bráulio Pedroso, que acabou não aproveitando a música".

O Departamento de Censura da Polícia Federal não levou fé nesta versão. Proibiu o LP e determinou seu recolhimento em todo território nacional. A proibição incitada, segundo os integrantes do Ave Sangria, pelo hoje colunista social do Diário de Pernambuco, João Alberto: "Ele tocava a música no programa de TV que ele apresentava e comentava que achava um absurdo, que uma música com uma letra daquelas não poderia tocar livremente nas rádios", denuncia Rafles. Almir Oliveira diz que lembra dos comentários do jornalista na televisão: "Mas não atribuo diretamente a ele. Se não fosse ele, teria sido outra pessoa, a música era mesmo forte para a época", ameniza. A proibição, segundo comentários da época, deveu-se a um general, incentivado pela indignação da esposa, que não simpatizou com a declaração de amor a seu Waldir.

O disco foi relançado sem a faixa maldita, mas aí o interesse da mídia pelo grupo já havia passado. A Globo, por exemplo, desistiu de veicular o clipe feito para o Fantástico, com a música Geórgia A Carniceira. O grupo perdeu o pique: "A gente era um bando de caras pobres, alguns já com filhos, a grana sempre curta. No aperto, chegamos até a gravar vinhetas para a TV Jornal (uma delas para o programa Jorge Chau)", relembra Marco Polo.

Em dezembro de 1974, o Ave Sangria parecia querer alçar vôo novamente. O grupo fez uma das suas melhores apresentações, com o show Perfumes & Baratchos. O público que foi ao Santa Isabel não sabia, mas teve o privilégio de assistir ao canto de cisne da Ave Sangria. Foi o último show e o fim da banda

disco ave sangria
Dois_Navegantes
La_Fora
Tres_Margaridas
O_Pirata
Momento_Na_Praca
Cidade_grande
Seu_Waldir
Hei!_Man
Corpo_Em_Chamas
Georgia,_A_Carniceira_
Sob_o_Sol_de_Sata

fonte: www.senhorf.com.br


Nos dias 28 e 29 de dezembro de 1974, a hoje cult e lendária Ave Sangria fazia no vetusto Teatro Santa Isabel o show Perfumes Y Baratchos. Foi uma curta temporada de apenas duas concorridas apresentações(com tanta gente no lado de fora, que na metade de cada show, o vocalista Marco Polo mandava que os portões fossem abertos). Foi a mais bem sucedida apresentação da curta carreira da Ave Sangria. No entanto, aquele seria o canto de cisne do grupo, que se dissolveria logo depois.

De prestígio em alta em Pernambuco e no Sudeste, onde algumas das faixas do único álbum que lançaram tocavam bem no rádio, Marco Polo, Almir de Oliveira, Agrício Noya (o Juliano), Ivson Wanderley (Ivinho), Israel Semente Proibida, e Paulo Rafael davam a volta por cima depois do baque sofrido com a censura e apreensão do primeiro e único LP, por causa da faixa Seu Valdir (o disco foi relançado sem esta música): “A gente estava no maior pique, mas manter uma banda de rock no Brasil na época era muito complicado. Lembro que levei o disco para a Rádio Tamandaré, na época a mais refinada da cidade e a moça que me atendeu, o nome era Norma, deve ter achado a música muito estranha, e não tocou. Além do mais, a Ave Sangria só vivia entrando em rolo. Como eu ainda era menor, faziam as coisa no meu nome. O Santa Isabel, por exemplo, foi alugado assim. Fui eu que fui numa tal Censura Estética da Polícia Federal liberar os cartazes do show", recorda o guitarrista e produtor Paulo Rafael, hoje morando no Rio. Geneton Moraes Neto, atualmente diretor de redação do Fantástico, em 1974, cobria a cena músical pernambucana daquela década e assinava a coluna Ensaio Geral, no Diario de Pernambuco. Ele lembra de um dessas confusões com os Rolling Stones do Nordeste, como a Ave Sangria era também conhecida, tanto pela música quanto pelos rolos que protagonizava: “Eles eram muito invocados. Uma vez um dos integrantes teve algum problema com a polícia, e os caras foram na redação para pedir que o jornal não publicasse a notícia. Fiz entrevistas com eles, dei muitas notas, mas não vi esse último show”, testemunha.

Lailson, o cartunista do DP, fez a direção musical de Perfumes Y Baratchos , e também o responsável pela arte do cartaz (restaurando a ave do logotipo do grupo, semelhante a um carcará, que foi refeita de forma grosseira, no Rio, para a capa do disco Ave Sangria, saído pela Continental). Para ele, aquela foi uma morte de certa forma anunciada: “Lembro que pouco antes do show, Marco Pólo chegou a comentar comigo que pretendia partir para carreira solo”.

Lailson recorda que sentia um certo clima de rivalidade entre Almir e Marco Pólo, enquanto Israel era uma estrela à parte. “Acho que o afastamento de Rafles, espécie de relações pública deles, contribuiu para o fim”, conclui. Paulo Rafael destaca a participação de Ivinho: “Ele era meio militar, levava tudo muito a sério. Quando a gente entrou no palco, havia um bocado de castiçais, da decoração bolada por Kátia Mesel. Ivinho, quando viu aquilo reclamou, ‘Tá parecendo coisa de macumba’”. Além das velas tinha ao fundo um castelo:” Pegamos de um cenário do teatro, acho que de alguma ópera”. Marco Polo, atualmente na Continente Multicultural, numa entrevista ao crítico Héber Fonseca (no JC), dois dias antes do show, não parecia pensar em carreira solo: “Não é ainda o trabalho da Ave Sangria. Há apenas um esboço, uma insinuação, é dela que vamos partir para outros caminhos”. O produtor Zé da Flauta, então no Ala D’Eli, efêmera banda de Robertinho do Recife, tocou flauta e sax no Perfume Y Baratchos. Ele também não imaginava que aquele seria o início do fim da banda: “Pensava que dali eles iniciariam uma nova fase”.

O certo é que Ave Sangria fez duas apresentações tecnicamente impecáveis: “O show começa com um tema meu, A grande lua, meio Pink Floyd. Os amplificadores Milkway, de Maristone (dono do melhor som de palco do Recife nos anos 70), se a gente mexesse uns botõezinhos faziam a guitarra soar feito um sintetizador”, conta Paulo Rafael. “Nesses dois shows fizemos várias músicas inéditas”, completa Marco Polo.

Há unanimidade entre Zé da Flauta, Paulo Rafael ou Marco Polo (Agrício Noya, Ivinho e Almir de Oliveira não foram localizados para esta matéria. Israel Semente já faleceu) sobre o catalisador da dissolução da Ave Sangria: “No início de janeiro, Alceu, que namorava a banda há muito tempo, fez o convite para os músicos tocarem com ele no festival Abertura da TV Globo. Eu ainda fiz alguns shows no Rio, aqui, com Israel, mas já estava casado, com filho, decidi voltar ao jornalismo”, conta Marco Polo. O guitarrista Paulo Rafael completa: “Não teve assim um ‘vamos acabar’. Depois do Abertura a gente se questionou. Eu queria sair de casa, uns já estavam casados, economicamente não havia no momento outra coisa a fazer. Continuamos tocando com Alceu”.

O Ave Sangria voltaria a reunir-se mais uma vez, para gravar um clipe para o Fantástico, de Geórgia Carniceira. Almir de Oliveira (que não foi tocar com Alceu Valença) revelou que o clipe foi um equívoco da produção da Globo: “Queriam era a banda de Alceu, mas acabaram chamando a Ave Sangria”. O clipe, gravado num estúdio em Botafogo, nunca foi ao ar. Permanece até hoje nos arquivos da emissora carioca.


disco perfumes & baratchos

a grande lua
janeiro em caruaru
vento vem (boi ruache)
dia-a-dia
gegia, a carniceira
sob o sol de sat
nstrumental
por que
hei! man
o pirata
l fora