domingo, 3 de junho de 2012

Como não amar uma cidade onde um McDonald’s faliu?



ERASTO VASCONCELOS
Como não amar uma cidade onde um McDonald’s faliu?
Por Téta Barbosa

Eu Olindo, Tu olindas, ele Olinda. Nos domingos nós olidamos.
Descobri que Olinda era um verbo quando dei uma carona para o músico Erasto, irmão do percussionista Naná Vasconcelos. O irmão menos famoso do clã dos Vasconcelos escolheu a cidade alta para passar seus dias. Por lá escreveu o guia “das Olindas” que diz assim:

“Subi Mercado da Ribeira
Desci largo de São Bento
No Largo do Varadouro
Na Praça do Jacaré
Afoxé, afoxé
Olinda mandou me chamar”

E, enquanto cantarolava no carro durante a carona, avisou “pode me deixar nos Quatro Cantos. Cantos mesmo, estou precisando Olindar”
E como não amar a única cidade no mundo um McDonald’s faliu?
Olinda é mesmo uma cidade estranha. E isso me faz lembrar um causo, passado numa segunda-feira chuvosa num bar da cidade histórica. E esse conto, caro leitor, não se passou com a amiga da prima da minha sogra, não. Foi comigo mesmo que aconteceu, por isso passo atestar de pés juntos, a estranheza do acontecimento.
Lá estávamos nós, amigos boêmios, numa festinha regada a jazz na sede da Pitombeira (bloco famoso nos dias de carnaval). Entre uma música e outra, rolou um zum zum zum, à bova miúda, de que naquela mesma festinha estava Matt Dillon (ator famoso das bandas de Hollywood).
- Matt quem? É aquele que fez Supremacia Boume?
- Não, é o do filme Crash, no limite. Aquele do Oscar, pô.
Passada a confusão para diferenciar Matt Dillon de Matt Damon (americano é tudo igual) e Brad Pitt de Tom Cruise (que no calor na discussão entraram na conversa sem ter nada a ver com o assunto). Confirmamos a presença do famoso no local. Sim, era ele.
A notícia, que tinha potencial para se transformar em euforia, autógrafo e briga por fotos em qualquer lugar no mundo, parou por aí. É de Olinda que estamos falando, afinal de contas. Ninguém, repito, ninguém no recinto abordou o cara. Matt ficou lá sozinho, carente.
O desprezo pelo moço chegou a tal ponto que ele teve que tirar fotos dele mesmo no balcão do bar.
Deu até pena (dó, na linguagem do Sul, porque quem tenha pena é galinha). Mas a atitude blasé dos olindenses dizia “Pra que Matt se a gente tem Erasto?” Que mais além se transforma em “pra que McChicken, se aqui tem tapioca?” ou “pra que badalar, se a gente pode Olindar?
O fato, meus amigos, é que Olinda não é uma cidade, é um estado de espírito. E ai dos turistas que passam rápido demais, tiram fotos demais, compram bugingangas demais e nem tem tempo de conjugar o verbo Olindar. Desses dá pena, de verdade.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre as segundas-feiras sobre modismo, modernidade e curiosidades. Ela também tem um blog – Batida Salve Todos.

Fonte: Blog do Noblat

Nenhum comentário:

Postar um comentário